quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Precisamos de quatro abraços por dia para sobreviver

O Poder do Abraço
(Por Teresa Diogo, Revista Pais & Filhos)

Mimo nunca é demais
Precisamos de quatro abraços por dia para sobreviver, oito para manutenção do bem-estar e 12 para crescer. A quantização é da conhecida psicoterapeuta norte-americana Virginia Satir e, embora possa parecer exagerada face ao ritmo alucinado a que tantas vezes vivemos, a verdade é que a necessidade do abraço é bem mais profunda – quase orgânica – do que imaginamos.

“Os abraços são tão vitais para a saúde e desenvolvimento das crianças como a comida e a água”, defende a psicóloga Ana Margarida Marcão, da Oficina da Psicologia, explicando por que é o toque tão importante desde cedo: “Um bebé reconhece os seus pais inicialmente pelo toque e cerca de 80 por cento da sua comunicação é feita através do movimento corporal. Portanto, é mais fácil comunicar com eles pelo contacto físico. Um abraço ‘dirá’ à criança que ela é amada, querida, protegida e que está em boas mãos, dando-lhe uma sensação de segurança de uma forma que as palavras não conseguem”.

E este toque é primordial desde o primeiro minuto para estimular o processo de vinculação, que vai refletir-se no desejado desenvolvimento saudável e equilibrado da criança. “O contacto corporal mãe-bebé, desde os momentos imediatos ao parto, resulta em efeitos positivos na interação entre os dois, observados quer a curto quer a longo prazo”, confirma a psicóloga clínica Carolina Martins Faria, do Gabinete de Psicologia, acrescentando que “ao longo do desenvolvimento, as manifestações de afeto, consistentes, previsíveis e sensíveis, são essenciais para a construção de laços afetivos e para uma relação de confiança com os pais”. Além dos benefícios de uma vinculação segura, “o conforto proporcionado pelo contacto corporal (abraçar, tocar) é uma ferramenta importante na gestão emocional, particularmente em crianças pequenas”. Ou seja, ajuda a criança a regular as suas reações quando é confrontada com situações de stresse ou com emoções negativas.

Mas os benefícios do toque não se limitam apenas ao plano emocional: há todo um conjunto de efeitos positivos também a nível físico que não devem ser menosprezados: “O afeto e cuidado transmitidos através do toque aumentam os níveis de oxitocina no cérebro”, explica Ana Margarida Marcão. A ocitocina (hormona libertada na corrente sanguínea) “relaxa o corpo, diminuindo o ritmo cardíaco, a pressão arterial e os níveis de cortisol”. O excesso de cortisol no cérebro (em resposta a situações de stresse) “afeta o desenvolvimento do sistema límbico, que controla e gere as emoções, e interfere também com a capacidade da criança para aprender e crescer”. Assim, sublinha a psicóloga, “o toque tem um papel significativo na capacidade da criança regular as suas próprias respostas ao stresse”. Um abraço promove ainda “a libertação de dopamina (uma hormona que atua como um estimulante), criando uma sensação de prazer no cérebro” e “reforça o sistema imunológico, ao aumentar os níveis de hemoglobina (que transporta o oxigénio aos nossos órgãos e tecidos) no sangue”. Afinal um abraço não é “só” uma reconfortante manifestação de afeto, é um ato quase mágico, com um poder que tem tanto de ancestral e profundo como de inesperado.
 
Artigo completo em Revista Pais & Filhos.